terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Major aconselhou o delator a não comprometer governo do Distrito Federal com acusações durante depoimento: "Você está colocando o pé na cova"



O PM João Dias, que narrou a VEJA os bastidores do esquema de corrupção operado no Ministério do Esporte
No depoimento que prestou à Polícia Militar do Distrito Federal, na quinta-feira passada, o soldado-delator João Dias deu detalhes importantes sobre o esquema de corrupção na capital federal, no governo do petista Agnelo Queiroz. O que a transcrição não mostra é que, logo depois de fazer as revelações, Dias sofreu pressão para recuar das denúncias.

O site de VEJA obteve em primeira mão o áudio com este trecho do depoimento. O major Neilton Barbosa, que conduz a oitiva, primeiro se certifica de que João Dias não está gravando. Depois, tenta convencer o delator a não denunciar irregularidades no governo: "Tem certeza de que você quer seguir com esse tipo de coisa?".

As razões para o pedido do major não são técnicas. Nada impede um detido de falar o que sabe, especialmente quando os episódios relatados têm relação com o fato que motivou a prisão. Nesse caso havia: Dias foi detido quando tentava devolver à força 200 000 reais que, segundo ele, foram enviados por emissários do governo como um "cala-boca". Tentando passar um tom amigável, o major explica, candidamente, ao delator: "Quer relatar, relata, mas você está colocando o pé na cova".

Neilton diz que, ao revelar uma lista de irregularidades no executivo local, João Dias estaria entrando na seara política, o que não seria bom para o futuro do soldado: "Você está entrando em um campo... você sabe o que é política. Os administradores não são eternos. Hoje entra um, amanhã ele pode sair. Depois entra um outro, pode sair".

O major lembra que, pelo crime de lesão corporal, Dias não ficaria mais do que dois dias preso e, por isso, o denunciante não deveria se comprometer relatando episódios de corrupção – alguns dos quais ele também admite ter participado. Estranhamente, o major continua seu esforço: diz que delator pode optar por ir para casa e esperar alguns meses antes de formalizar a denúncia sobre os desvios no governo. "Isso dá tempo de você conversar com seus advogados, ir esfriando", explica. A tentativa de convencer João Dias dura quase 20 minutos, sem muito sucesso. O policial apenas responde afirmativamente, mas não pede para retificar o depoimento que prestara nas horas anteriores.

Outra afirmação do major-interrogador-conselheiro chama a atenção durante a tentativa de demover João Dias das acusações: "Se você embarcar nisso aqui você está buscando... sabe o quê? Quem é o zero um da Polícia Militar hoje?" Uma voz diferente, provavelmente a de João Dias, entra em cena: "É o coronel Leão". O condutor do interrogatório consente: "Então...".

O tenente-coronel Rogério Leão é o chefe da Casa Militar de Agnelo. Não comanda um grupamento de soldados sequer. Mas, na prática, tem grande influência na corporação e chega a desautorizar alguns comandantes. Leão é justamente um dos principais alvos de João Dias, que diz ter recebido do coronel 250 000 reais a pretexto de comprar o silêncio de Daniel Tavares, ex-lobista da indústria química. Tavares acusava o governador Agnelo Queiroz de ter recebido propina e, depois, estranhamente voltou atrás. Se for verdade o que diz João Dias, o recuo foi comprado na operação comandada pelo coronel. O chefe da Casa Militar nega.

Suborno - No trecho obtido pelo site de VEJA, Dias dá detalhes que não constam da versão oficial (transcrita) do depoimento. O delator conta, por exemplo, ter imagens do momento em que Leão visita sua casa e entrega os 250 000 reais. "Quem deu dinheiro na minha casa para mim foi o coronel Leão". Para quê? "Eu paguei o Daniel para ficar quieto, e o Daniel fez esse documento que é uma espécie de nada-consta". O delator confirma a existência das gravações: "Eu tenho 32 câmeras na minha casa. Está filmado". Nas declarações à imprensa, o soldado disse ter vídeos. Mas nunca disse o que as imagens mostrariam

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