terça-feira, 6 de maio de 2014


Remédios estão em falta no SUS
por
Silvana Blesa

Publicada em 06/05/2014 07:25:00



Foto: Reginaldo Ipê/Tribuna da Bahia

Dona Vilma só está conseguindo continuar o tratamento por ter recebido amostras grátis


A aposentada Vilma Francisca do Nascimento, de 64 anos, sofre de problemas respiratório e há cinco anos faz tratamento contra Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Ela precisa receber os medicamentos para continuar o tratamento e ter uma qualidade de vida melhor. Porém, há quase quatro meses, portadores da DPOC na Bahia estão sofrendo devido à falta dos medicamentos disponibilizados pelo Sistema único de Saúde (SUS).

Dona Vilma só está conseguindo continuar o tratamento emcasa, devido ter recebido amostras grátis doadas pelo pneumologista e especialista no tratamento da patologia, Guilhardo Fontes Ribeiro. Mas, o receio já rodeia a aposentada, pois o seu estoque de remédio está acabando.

“Não sei o que fazer quando acabarem os remédios que o médico me deu. Eu ligo para o setor de medicamentos do Hospital Octávio Mangabeira, onde são distribuídos os remédios e ninguém atende. Não adianta levar receita se não tem remédio”, lamenta Vilma, que sofre com tosse e falta de ar quando não toma a medicação.

O mesmo acontece com a aposentada Marinalva Mattos Prado, 74 anos, que faz o tratamento há quatro anos quando descobriu a doença. A filha dela, Edilene, disse que a mãe sofre de cansaço intenso e não pode ficar sem o medicamento.

“Estamos com um restinho de remédio e fizemos um cadastro no Hospital Manoel Vitorino para receber a medicação, mas até agora, não recebemos nenhuma informação. Estamos receosos com essa falta de medicamento”, disse a filha Edilene.

Quem não tem o remédio para continuar o tratamento, precisa gastar em torno de R$ 500 para custear o tratamento, já que o SUS não tem os medicamentos. Segundo dados da pesquisa Revelar, que traça o perfil dos portadores da doença, a enfermidade respiratória atinge seis milhões de pessoas no Brasil e aproximadamente 480 mil no Estado da Bahia.

O estudo feito em diversas capitais do País, evidencia que 37 mil brasileiros morrem vítimas da doença por ano, o equivalente a 4 mortes por hora.

“A qualidade de vida reduz sem os remédios. Os portadores ficam dependentes de familiares, podendo parar na emergência a qualquer momento por não conseguirem respirar direito”. O alerta é do médico Guilhardo Fontes Ribeiro, que atende pacientes no Hospital Santa Izabel, no bairro de Nazaré, um dos poucos centros de saúde que oferecem atendimento especializado para DPOC em Salvador.

Os outros locais para tratamento e realização de exames para a doença são o Hospital Octávio Mangabeira, no Pau Miúdo, e o Hospital das Clínicas, no Canela.

Dependentes

De acordo com Guilhardo Fontes, só no Hospital Santa Izabel são 600 pacientes cadastrados para receber atendimento pelo SUS, todos dependentes de medicamentos como Brometo de Tiótropio, Formoterol, Fluticasona, Salmeterol, Budesonida, entre outros, que estão em falta.

Para tentar minimizar o problema, o médico consegue amostras grátis com laboratórios para os pacientes com casos mais graves. “Recebo uma média de trinta ligações por dia de pacientes desesperados, me pedindo remédios”, afirmou ele salientando que nesse tempo frio, o problema da DPOC agrava ainda mais.

Para o presidente da Associação Baiana dos Portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), Jorge Alves, a situação na Bahia está crítica. “São pessoas idosas que chegam aos hospitais com receitas de médicos do SUS e saem sem remédios. Sem os medicamentos elas não conseguem respirar direito”, desabafa.

“Nas farmácias têm remédio, mas por se tratar de uma medicação cara e os portadores da doença serem pessoas humildes, não têm condições de comprar”, completa.

Doença atinge mais fumantes

A DPOC é uma doença geralmente progressiva, irreversível, que engloba enfisema pulmonar e bronquite crônica. Ela se caracteriza pela presença de sintomas crônicos como: tosse, produção de catarro e falta de ar e se manifesta com mais frequência em fumantes e ex-fumantes acima de 40 anos.

Além da falta de ar, a DPOC pode causar exacerbações, infecções respiratórias agudas recorrentes, que levam a uma piora significativa na qualidade de vida do paciente, agravando muito o prognóstico do mesmo. Desse modo, se um paciente tem de duas a três exacerbações por ano, ele pode ter pelo menos um ano de redução de vida a cada novo evento.

O tratamento para DPOC costuma envolver três tipos de medicações, que devem ser tomadas diariamente. “Há pacientes reclamando que não tem condições, se privando da alimentação para comprar os remédios. Alguns deles ainda reduzem a dosagem dos medicamentos para economizar, o que agrava um pouco a situação”, conta Guilhardo Fontes.

Segundo o presidente da Associação Baiana dos Portadores de DPOC, já foram feitas denúncias ao Ministério Público Federal e Estadual sobre o caso. “No momento estamos aguardando alguma providência. O governo precisa tomar uma atitude urgente ou pessoas irão morrer”, afirma Jorge Alves.

Falta de vagas

Além da falta de medicamentos, ainda há o problema da falta de vagas nos centros de referência para o tratamento em Salvador. Atualmente, nenhum dos três hospitais que fazem parte do programa está aceitando novos pacientes.

“Não estamos aceitando novos pacientes porque não há medicamentos nem médicos suficientes para atender a todos”, explica o coordenador do ambulatório do Hospital das Clínicas, Antônio Carlos Lemos.

A equipe da Tribuna procurou a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) para saber sobre a falta de medicamentos denunciada por pacientes, sendo informada pela assessoria de imprensa por meio de nota que “o processo de compra dos medicamentos Formoterol, Fluticasona, Salmeterol e Ceretide já foi concluído.

A previsão é que esta semana os medicamentos comecem a ser distribuído. Em relação ao Bidezonide, a versão pura está em falta por conta de suspensão da empresa fornecedora. Novo processo de compra já foi aberto.

Já o Brometo, o processo de compra já foi concluído. A previsão é que esta semana o medicamento comece a ser distribuído aos pacientes.

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